Retalhando a cultura pop o curitibano Bily Mariano ou Bucher Billy como é mais conhecido por fazer ilustrações que misturam referências e tem como background os assuntos do momento.
Butcher Billy? De onde veio esse nome artístico?
Veio do meu tataravô que foi um açougueiro irlandês que se uniu ao IRA na luta contra o exército britânico, no conflito armado da Guerra da Independência da Irlanda em 1919. Entre os soldados, seu apelido se manteve como “The Butcher” por participar dos confrontos empunhando seus cutelos, aparatos de cozinha e até mesmo as vestimentas. Com fama de cruel e impiedoso, ele esteve envolvido diretamente no evento conhecido como “Domingo Sangrento”. Temendo a retaliação tanto do governo britânico quanto da polícia real irlandesa, ele entrou clandestinamente em um barco, aonde acabou viajando o mundo usando suas habilidades na cozinha. O barco veio parar no Brasil, onde meu tataravô resolveu se exilar e seguir sua vocação de açougueiro, trazendo para o país a sua especialidade, que eram os cortes de bacon.
Quando começaram a te chamar de artista?
Em 2013, quando as minhas primeiras séries de ilustração começaram a viralizar por aí. Meu background é como designer gráfico - eu imaginava que estava lançando projetos de design em uma embalagem de cultura pop. Não me auto-intitulava como artista, as pessoas é que começaram a me chamar assim. Aliás, não costumo me intitular dessa maneira até hoje.
Misturar heróis dos quadrinhos com ídolos do pós-punk, ditadores com animes marcaram seu estilo. Conta como acontece o processo de criação?
O conceito de mashup é algo que me precede, quando comecei a fazer já não era uma coisa nova. Acho que talvez o que eu tenha trazido foi uma maneira diferente de enxergar os ícones da cultura popular, e transmitir mensagens, fazer comentários através das misturas visuais, que façam as pessoas pensarem. O processo de criação envolve, é claro, consumir todo tipo de conteúdo, pesquisar bastante e passar muito tempo na maturação das ideias - normalmente eu gosto de já ter na minha cabeça o produto final, antes mesmo de me sentar pra começar a produzir. Uma vez que tenho isso, a execução propriamente dita é bem rápida - não gosto de levar mais que um dia pra finalizar algo que comecei.
Hoje você é reconhecido mundialmente como foi no começo? E quando foi o "pulo do gato"?
Na verdade não sei dizer se houve um, pois tudo foi muito gradativo mesmo. Acredito que a constância foi a coisa mais importante, pois desde 2012 a minha produção pessoal tem sido ininterrupta. Tive e tenho até hoje muitas artes e até mesmo séries inteiras que me tomaram tempo e trabalho, e simplesmente não viraram. Mas sempre continuei produzindo e encarando tudo como a construção de uma obra, o refinamento de um estilo. Até mesmo os projetos que ando fazendo agora para grandes companhias, como Netflix, Playboy, etc - não representaram tanto quanto a insistência na produção constante durante todos esses anos.
Reconhecemos uma grande influência dos quadrinhos na sua arte, quais são os seus autores favoritos?
Jack Kirby, Steve Ditko, Sal Buscema, John Romita, Frank Miller, Mike Mignola, Brian Bolland, Carmine Infantino, Jim Aparo, Curt Swan, etc.
Sua arte muitas vezes é provocatica como você lida com as críticas?
Eu costumo dizer que é só quando 50% das pessoas adora algo que eu faço, e outras 50% acham que é um completo lixo, é que eu realmente me sinto um verdadeiro artista :) Acredito que a única maneira de se destacar no oceano da internet é se comprometer a fazer um trabalho realmente autoral e expor suas ideias. Frequentemente isso significa ter que dar a cara a tapa. Não tenho a intenção de ser polêmico o tempo todo, mas eventualmente algumas ideias e conceitos caem nessa classificação, e é preciso assumir isso. Pessoalmente eu aprecio qualquer tipo de reação passional a algo que eu faça, seja positiva ou negativa. O problema mesmo é quando a arte é irrelevante - não inspira reação nenhuma.
Como funciona? Você mesmo vende sua arte?
Meu approach nesse sentido é muito mais como designer gráfico do que artista. Com relação ao meu trabalho pessoal, quando comecei a criar como Butcher Billy, o pouco tempo livre que eu tinha pra isso era extremamente escasso e, com a demanda crescendo, eu tive de tomar uma decisão muito consciente. Ou eu me dedicava a criar, ou me dedicava a todo o maçante processo de produção, manufatura e comércio de material. Eu não queria ser o cara que faz camisetas, ou o cara que sai vender prints em feiras. Portanto, eu comecei a firmar parcerias com todo tipo de lojas e galerias online - que produzem, vendem e enviam os mais variados produtos e peças de arte pelo mundo inteiro - para que eu me preocupasse apenas em criar. Hoje em dia isso mudou e eu já posso ser Butcher Billy 24 horas por dia - contudo, eu ainda mantenho esse sistema, pois isso tudo meio que acabou definindo a minha maneira particular de trabalhar como artista.
Já com relação aos meu projetos comissionados - que hoje em dia correspondem a pelo menos 2 terços do meu trabalho como Butcher Billy - eu sou representado por uma agência internacional que gerencia e intermedia a minha relação com empresas e companhias que contratam os meus serviços. O objetivo é muito parecido com o meu trabalho pessoal: a agência cuida de toda a parte burocrática, papelada, contratos, relacionamento com o cliente, cobranças, pagamentos, etc - e eu me preocupo apenas em criar.
Onde seu trabalho mais teve destaque?
Acredito que França e Reino Unido são os lugares em que meu trabalho tem mais destaque, pelo volume de trabalho e projetos.
E pro futuro? Algum projeto?
Até o momento estou com o lançamento do meu segundo livro programado para outubro em Paris, e uma exposição solo em Chicago, sendo planejada para novembro.
Pra finalizar algum recado, mensagem ou conselho?
Pratique e produza até sangrar. Literalmente. Se a arte não está tirando o seu sangue, você está fazendo algo errado.
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