LENDA VIVA

Quem é Jim Steranko, o artista que introduziu a "pop art" nas HQs?

Em seus quase 85 anos de vida, o artista foi uma influência para fãs e profissionais que se inspiraram em seu estilo único

Jim Steranko segue como um dos maiores nomes da nona arte

Em 1966, um cometa apareceu na redação da Marvel e alterou a década de 60 para a indústria dos quadrinhos, arrastando tudo em seu caminho numa órbita rápida que durou apenas 3 anos, até 1969. Esse astro celeste chama-se Jim Steranko, o desenhista que a Marvel homenageou com a abertura - feita por IA -, para a série Invasão Secreta. A Panini também está lançando no Brasil um compilado no formato Omnibus com a contribuição do artista para o personagem Nick Fury. Mas, afinal, quem é o cometa Steranko?

Jim Steranko nasceu na Pensilvânia, EUA, em 5 de novembro de 1938, e permanece ativo até hoje. Ele é um desenhista, roteirista, ilustrador, historiador, artista de fuga (!), guitarrista de uma banda de rock, editor de revista de fanzine e até ladrão de carros(!!!) - a lista é extensa e tão excêntrica que sua vida poderia servir como inspiração para um filme ou HQs. Tanto é que o personagem Sr. Milagre, criado por Jack Kirby para os Novos Deuses da DC, é inspirado nele.

Em 1965, ele conquistou seus primeiros trabalhos na Harvey Comics, a editora responsável por títulos como Gasparzinho, Riquinho, Sabrina e Archie. Na Harvey, criou alguns personagens como Spymaster, Gladiador e Magicmaster, para uma nova linha de heróis. No entanto, o salto que o levaria ao reconhecimento na história da nona arte se deu em 1966, quando ele ingressou na Marvel Comics e assumiu o lápis nas aventuras de Nick Fury em Strange Tales nº 151 (publicada em dezembro de 1966).

Reza a lenda que Steranko apresentou seu portfólio a Stan Lee, que ficou impressionado com suas habilidades artísticas e o incentivou a escolher qualquer título da editora para trabalhar. Em resposta, Steranko mirou precisamente no título com as vendas mais baixas: as histórias de Fury, publicadas em 12 páginas da revista, enquanto as outras eram as aventuras do Doutor Estranho. 

Inicialmente,Steranko trabalhava seguindo os esboços de Jack Kirby, uma prática comum na editora à época. No entanto, rapidamente ele alcançou um feito inédito na Marvel, algo que nem mesmo o Rei, Jack Kirby, havia conseguido: roteirizar e desenhar suas próprias histórias.

Essa façanha só foi possível porque Steranko imprimiu um senso de "pop art" único às histórias em quadrinhos. Fortemente inspirado por Andy Warhol, um renomado artista gráfico, suas páginas eram dinâmicas, com designs de página únicos, títulos chamativos e integrados à cena (algo semelhante ao que Will Eisner fez anos antes). Isso resultou em uma sensação de velocidade, frescor e sofisticação que os quadrinhos de super-heróis da época não possuíam. Seu retrato de Nick Fury deixou de ser um simples alter ego de Jack Kirby e passou a assemelhar-se mais a James Bond e ao próprio Steranko, que adotava ternos elegantes e adequados à moda.

Steranko deu um tom único às HQs de Nick Fury quando passou a fazer parte da Marvel

Os leitores adoraram essa abordagem e, em pouco tempo, Nick Fury ganhou um título mensal nas mãos de Jim Steranko, para o desespero do Código de Ética dos Quadrinhos, que censurou uma página onde insinuava-se uma cena de intimidade entre Fury e a Condessa Valentine. Steranko reformulou a página, fazendo o personagem guardar a arma no coldre, o que era muito mais sugestivo. No entanto, a passagem de Steranko foi breve como a de um cometa. Para surpresa dos leitores, ele deixou a revista após a edição nº 5, embora ainda tenha trabalhado em algumas histórias dos X-Men e do Capitão América.

Jim Steranko também trabalhou em quadrinhos do Capitão América

A verdade é que Steranko se afastou das HQs como atividade integral. O motivo foi simples: dinheiro. Além de escrever e desenhar quadrinhos, tocar numa banda de rock e realizar mil e uma atividades, ele trabalhava para o mercado publicitário, onde recebia uma remuneração muito mais substancial.

Ao longo de mais de 50 anos, Steranko voltou para produzir edições especiais esporádicas para a Marvel, DC e outras editoras, além de ter publicado livros sobre histórias em quadrinhos. Em 1973, ele co-fundou a revista FOOM, uma mistura de fanzine e revista de notícias sobre a Marvel. Além disso, embarcou na indústria cinematográfica em Hollywood, criando pôsteres para diversos filmes e contribuindo com o visual do personagem Indiana Jones, além de participar na adaptação para quadrinhos de "Drácula", de Bram Stoker.

Comentários